Tens direitos? O que fizeste hoje para os ter e merecer?
Somos todos titulares de direitos. Temos personalidade jurídica e aquando do nosso nascimento completo e com vida, ficamos titulares de direitos. Tudo certo até aqui.
Há hoje uma cultura dos direitos e gosto muito disso. Trabalho todos os dias para que isso aconteça. Enquanto tiver força e voz, ninguém que chegue até mim será privado dos seus direitos. Todos os direitos. Todos.
Mas, o que fazemos nós todos os dias para merecer esses direitos? É um tema que me tem levado a pensar muito ultimamente.
Vou começar por experiência própria:
Um pai que abandona o filho e a mãe do filho para morrer e nega auxílio, tem direito ao filho?
Os mais afincados e até eu diria: CLARO! Não é claro. Há no direito uma coisa chamada “intenção” e “presunção”. Sabendo que com a negação de auxílio a mulher pode perder o filho, pode inclusive morrer, que intenção há à partida do pai que abandonou? E que presunção podemos fazer no presente e no futuro? Nega auxílio no ventre mas depois vai-se compadecer quando nascer? Quem nos garante que vai? Quem nos garante que fará alguma coisa se o bebé precisar de auxílio também ele? Ninguém.
Assim, um pai que abandona um filho e a sua mãe e nega auxílio, diria que perdeu à partida os seus direitos de pai e de ser humano naquela situação.
No futuro, como podemos aferir e confiar numa pessoa assim? Muito para pensar e muito para estudar ainda sobre comportamento humano e a sua capacidade efetiva de mudar.
A mesma coisa com a família do pai: nega auxílio e ainda se diverte e goza com a situação. Tem direito a estar e ver a criança? Não creio. Como podemos confiar que mudaram? Muito ainda para estudar e ver maneiras possíveis de viabilizar a mudança de comportamentos.
Um cidadão que reiteradamente não vota, não se informa, tem direito a criticar e desdenhar da política e decisões do seu país e chamar a isso liberdade de expressão?
A política e o estado são máquinas enormes, de uma complexidade incrível. Nem sempre percebemos as decisões e se não estivermos informados/as, seguramente não iremos perceber. Fazer parte de um partido político não é requisito, no entanto optar pelo melhor para liderar a máquina é imprescindível. Com isso vem a responsabilidade de nos informarmos sobre as pretensões políticas e de gestão de cada partido.
Simples é dizer que está mal, sem ver o que levou à decisão. Simples é condenar sem nada saber. E este é o padrão de quem não é informado.
Um colaborador que não trabalha, que trabalha mal, erradamente e prejudica o empregador, que nas costas difama gratuitamente o empregador, mas não sai porque lhe paga o salário e na frente é extremamente motivado sempre em cima do acontecimento, que direitos tem?
A meu ver, não tem. Mas para provar que não tem, tem de se andar em tribunais, aferir responsabilidades e muitas pessoas não estão para isso. Dizem que “a justiça tarda mas não falha” e eu acredito que sim, a justiça do universo (há quem chame karma), mas as instituições de justiça tardam e falham até porque são feitas por humanos que ainda que treinados, tardam e falham. Até a intolerância tarda e falha: falha connosco e falha aos outros.
Então, a injustiça fica do lado do empregador que paga e incentiva. As emoções não são “processáveis” em tribunal e o alegamente “forte” será sempre o opressor e o mau da fita.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Falha a fraternidade, falha a dignidade e assim falha o direito e os direitos.
Temos todos direitos: inatos, inalienáveis. Façamos todos os dias para os merecer.
“I can’t breathe”, but I can speak! E assim farei enquanto puder. Falarei com a voz, a força e os dedos sobre como os pretensos “direitos” de outros matam os nossos. “I can’t breathe” sometimes, but I can speak.
Yes, I can.