Mensagem do Dia 10 de dezembro de 2020 – Dia Internacional dos Direitos Humanos
Dia 10 de dezembro de 2020. Dia Internacional dos Direitos Humanos e o novo normal não-normal e não normalizado
Esta é uma mensagem da Presidente da Direção da FENIKS a propósito do Dia 10 de dezembro de 2020 – Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Este ano era o ano da primeira edição da conferência HRIA – Human Rights in Action, da Associação FENIKS. Por falta de inscrições, por indisponibilidade de última hora de oradores, decidimos cancelar a conferência.
De facto, acho que este “novo normal” que toda a gente fala, que por um lado facilita a vida de todos, por outro lado, cansa-nos até à exaustão.
Hoje é normal ser tudo online. Temos webminars gratuitos todos os dias em temas diversos o que é muito bom. Temos cursos e mais cursos por pessoas de renome e ilustres desconhecidos, em temáticas interessantes e online, o que é muito bom. Tudo é online, até as nossas relações sociais, de amizade, profissionais e de amor.
As apps ganharam à vivência e o Covid-19 tornou-se um mediador de relações online. Tudo se justifica pelo Covid19: estou nervoso, covid; estou doente: covid; não posso: covid. E este covid põe e dispõe da nossa vida, das nossas emoções e das nossas relações.
Este covid que tudo dispõe de nós, não pode dispor da nossa mente. Relembro então um dos pressupostos básicos da PNL: “sou o dono da minha mente e, portanto, dos meus resultados” e sim, somos os donos da nossa mente e da nossa vontade e, portanto, do que falámos, do que comentámos e das escolhas que fazemos.
Não deveria ser necessário voltar a afirmar isto, mas nestas alturas conturbadas:
- Ajude quem precisa, quem pede e quem não pede, mas sente que essa pessoa não está bem.
- Não julgue, empatize. Sabemos bem que empatia nenhuma no mundo nos permite estar no lugar do outro e sentir como o outro, mas não precisamos de estar ou sentir para sentirmos nós que as nossas palavras e atos são vitais para aquela pessoa continuar a ter vida e vivacidade;
- Se não tem nada de bom a dizer, não critique, não dizime aquela pessoa que por não saber melhor (seja escrever, seja opinar), pensa e afirma daquela maneira. Use do seu conhecimento e faça o que é correto fazer: elogie em público e corrija em particular. Não use as redes sociais para se afirmar, só porque, naquela matéria, sabe um pouco mais do que aquela pessoa.
- Gere amor e confiança, não despeito e desrespeito.
Tenho visto de tudo ultimamente. Tenho visto pessoas com uma necessidade imensa de afundar quem já está no fundo. Pessoas que mentem em tribunal, cometem perjúrio por despeito e para levarem a melhor nos seus negócios e na vida. Pessoas que opinião sem limites na vida das outras e nem percebem a dor que causam. Pessoas que abandonam pessoas. Pessoas que abandonam filhos. Pessoas que abandonam pais. Pessoas que abandonam animais…
O novo normal dita que tenhamos uma pessoa licenciada em direito, racista e xenófobo com assento parlamentar. Uma pessoa que viola diretamente a Constituição da República Portuguesa e é intocável. Logo a partir daí, quando tudo permitimos a um racista e ainda por cima o elegemos democraticamente, tudo permitimos a toda a gente.
O novo normal é este. Onde o respeito e o amor nada valem e foram substituídos pelo ego inflamado e pelo protagonismo da opinião desinformada. E há opiniões de sobra de facto. Daquelas dentro de uma caixinha pequenina e escura que não tem mais abertura e vê a luz nas redes sociais, atrás de um computador ou telemóvel.
Já não se lê, já não se vê, mais do que o que se quer ver. A nossa vida dói e por isso queixemo-nos da vida dos outros, já que pela nossa nada fazemos. Ou vamo-nos queixar do governo, do estado ou do vizinho que esta chuva fria foi ele que mandou com certeza com mau olhado.
Propagam as curas simples e toda a gente tem cura para tudo: os psicólogos, os coachs, os padres, os advogados, e a mercearia da esquina que vende ervas em pó que curam a inveja alheia.
Tudo é energia nestes dias: “tu tens má energia e atrais pessoas más” tenho lido nas redes sociais. Isto por si só é uma “ciência” que de tão exata é tão falível, como de resto, todas as “ciências”são.
Destaco uma das minhas ciências e o seu fundador que diz: “vale mais um grama de contacto do que uma tonelada de energia” (David Boadella) ou como li num artigo de Patrícia Reis: “não vale a pena fazer yoga se não cumprimentas o porteiro”. E como fazemos yoga, não é?
Eu diria, ainda que contactes, ainda que faças yoga e cumprimentes o porteiro, vai mais além: mostra amor simples por essas pessoas. Um ato vazio é só um ato se não formos mais além.
Hoje é dia 10 de Dezembro. É Dia Internacional dos Direitos Humanos. É dia de celebrar uma enorme conquista da humanidade: um documento universal com direitos humanos, direitos de todos, direitos de todas, direitos…
Vivi e vivo muito o ativismo pelos direitos humanos. Fui voluntária sempre que pude ser. Dei voz, dei mãos, dei olhos e dei o meu amor. Formei-me para poder defender e proteger os direitos humanos. Percebi que não é na frente que se faz nada, é mais atrás. É quando nascemos humanos e quando crescemos para ser dignos, opressores ou violadores. Estaremos sempre a aplicar o direito se não aplicarmos a educação e a dignidade em casa, na escola e na rua.
Se houver respeito, não precisa haver direito.
E é isso: quando houver respeito, termina a Associação FENIKS. Posso partilhar que estou ansiosa para esse dia chegar.
Anabela dos Reis Moreira
Presidente da Direção
Associação FENIKS